O Brasil é um dos maiores fornecedores mundiais de algodão para a indústria têxtil, sendo o estado da Bahia, na região Nordeste do País, o maior produtor nacional. Agora, a partir de um esforço entre entidades do setor, 87,5% das fazendas baianas devem produzir algodão de forma totalmente sustentável, através da adesão ao programa Better Cotton Initiative (BCI). Antes mesmo dessa iniciativa, os cotonicultores da região já faziam parte do programa Algodão Brasileiro Responsável (ABR).

De acordo com Bárbara Bomfim Costa, coordenadora de Sustentabilidade Associação Baiana dos Produtores de Algodão (Abapa), o ABR é a síntese da união dos cotonicultores em prol de uma produção mais sustentável de algodão no Brasil. Criado pela Associação Brasileira dos Produtores de Algodão (Abrapa), o ABR certifica fazendas comprometidas a cumprir um rígido protocolo de boas práticas agrícolas ambientais, sociais e econômicas. Desde 2013, o programa opera em benchmarking com a BCI, com protocolos unificados.

“O ABR, assim como a BCI, tem como fundamento a melhoria contínua das boas práticas sociais, ambientais e econômicas nas unidades produtivas de algodão. A BCI é uma ONG suíça, presente em mais de 20 países do mundo, que é a grande referência internacional em licenciamento de algodão produzido em bases sustentáveis. A união dos dois protocolos em 2013 foi muito importante pela visibilidade mundial da BCI, mas o ABR é um programa muito mais extenso. Enquanto o ABR tem 183 itens de verificação, a BCI tem 51. Isso acontece porque o ABR se pauta nas legislações Ambiental e Trabalhista do Brasil. Assim, quem é ABR automaticamente é BCI, mas o contrário, não”, explica a coordenadora.

Para que a algodoeira seja certificada, precisa passar por três fases de avaliação, que englobam o diagnóstico da unidade produtiva, a correção de possíveis não conformidades e a auditoria de terceira parte, segundo ela. As fazendas e as unidades de beneficiamento são visitadas individualmente por auditorias independentes com reconhecimento internacional, em todas as safras de adesão ao ABR. Nesse contexto, Bárbara diz que o protocolo garante respeito aos pilares essenciais da sustentabilidade, e dentro desses pilares estão estabelecidos oito critérios, que englobam 183 itens de certificação. Esses critérios tratam de temas relacionados ao tripé da sustentabilidade.

Para a safra de 2021/2022, que está em curso nesse momento, o programa já teve a adesão de 76% dos associados que plantam na região Oeste, o que corresponde a 91% da área plantada na referida região. Agora, a expectativa é de que a adesão cresça safra após safra, justificando o trabalho investido pela Abapa para que a produção do algodão brasileiro seja cada vez mais sustentável, econômica e ambientalmente.

“A expectativa para as próximas safras é que consigamos atingir o percentual de produtores que ainda não entendem a importância de uma certificação na sua empresa e não fazem parte do programa, sendo exitosa essa ação nossos percentuais de atendimento chegarão bem próximo ao 100% da área plantada. A meta é um crescimento de 5% a cada safra”, informa Bárbara Bomfim Costa.

Para que esse número aumente, de acordo com ela, é preciso trabalhar um projeto de convencimento dos agricultores. De posse das informações das ações que a Abrapa desenvolve junto a diversos setores do mercado consumidor da fibra, a entidade procura demostrar aos associados que ainda não estão dentro do processo a importância da participação, não apenas com os benefícios gerados da porteira para dentro, ou seja aspectos sociais e ambientais, que aos olhos de alguns produtores são tidos como ganhos secundários.

Esses ganhos secundários são o foco da associação, que busca fazer com que o produtor veja que eles não são tão secundários assim. “Tentamos demonstrar as altas exigências que o mercado consumidor exige no atual cenário econômico, e como a não participação do processo pode impactar na comercialização do seu produto em um futuro próximo”, complementa.

Programa impacta no meio ambiente e na qualidade da fibra

De acordo com Bárbara, o protocolo contempla um critério específico voltado para o desempenho ambiental. Nesse contexto, os itens auditados são baseados no Código Florestal Brasileiro, além de outras boas práticas que garantem que as unidades implementam boas práticas que garantem a preservação dos recursos naturais existentes na unidade. Além de fortalecer a imagem do algodão brasileiro, a certificação serve de referência para outras cadeias produtivas, ela diz: “Afinal, sustentabilidade também significa a permanência do negócio por gerações, através do uso racional dos recursos, humanos, econômicos e sociais”.

“O programa dá um direcionamento de boas práticas agrícolas, que, conforme vão sendo implementadas, resultam em impactos positivos na qualidade da fibra nos diversos estágios da condução da lavoura. Essas boas práticas tratam de cuidados com a saúde do solo, controle de pragas e medidas para evitar contaminação da fibra no pré e pós-colheita”, completa.

Outro tema amplamente debatido são os reflexos nas condições do trabalho, já que existem dois critérios que tratam das condições de trabalho, um relacionado as questões de contrato de trabalho – regras CLT – e outro relacionado a saúde, segurança e bem-estar do trabalhador (NR31).A partir do momento que o participante da certificação cumpre esses requisitos, eles já estão entregando condições mínimas, exigidas por lei, aos seus colaboradores e, de acordo com a coordenadora, fica “evidente a mudança em toda a gestão da unidade após as primeiras rodadas de certificação, esse é o início da caminhada na melhoria contínua.

Além das vantagens já estabelecidas, outro ponto importante e que sempre desperta o interesse do produtor é a lucratividade. A partir disso, a coordenadora indica que se o empregador cumprir todos os requisitos dispostos para se enquadrar no programa, automaticamente ele estará contribuindo com o bem-estar do trabalhador e também garantindo que multas e custos desnecessários não apareçam.

“Se partimos do princípio de que, as vantagens econômicas podem estar além da lucratividade ao fim da safra, elas são inúmeras. A partir do momento que o empregador se dispõe a oferecer um ambiente de trabalho equilibrado, seguro, com todos os treinamentos exigidos para cada função, reduz – se drasticamente o número de acidentes graves com afastamento, o que significa que não haverá atrasos no processo produtivo pela falta do colaborador no posto de trabalho, nem incidirá maiores custos com os treinamentos para o colaborador que o irá substituir. Além disso, a participação na certificação pode ser uma maneira de estar condizente com legislação brasileira vigente, o que assegura em vários aspectos que em fiscalização de órgãos governamentais o participante não seja autuado e multado”, explica.

O Programa é gratuito para todos os associados da Abapa que tenham interesse em participar, o que pode facilitar a adesão. A partir disso, os únicos investimentos necessários são aqueles que tratam de estrutura que, eventualmente, não esteja em conformidade com os parâmetros da certificação e em consequência da legislação brasileira.

“Por se tratar de um programa de melhoria contínua, as unidades que ingressam no programa precisam atender a 85% dos itens de certificação em cada critério, sendo que dentro desses critérios existem os itens que são obrigatórios – caso a unidade não cumpra com esse requisito ela já é reprovada automaticamente. A cada safra, as unidades participantes precisam ter um crescimento de 2 pontos percentuais em cada critério, estabilizando no percentual de 90% a partir da quarta rodada de certificação”, explica.

Dentro do mesmo escopo de trabalho, a Abrapa, que é a detentora do programa, informa que já implementou a certificação das usinas de beneficiamento, Programa ABR – UBA. Era o último elo da cadeia do algodão – que não era certificada e rastreável. O protocolo segue os mesmos parâmetros do ABR fazenda, porém mais focado para a operação segura de máquinas e equipamentos (NR12). 

Fonte: agrolink.com

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