Todas as semanas se depara com notícia sobre o crescimento contínuo da produção de alimentos e matérias primas e o fortalecimento do país no cenário mundial da produção de alimentos.

Geraldo Eugênio, Professor Titular da UFRPE-UAST

O que foi feito no Cerrado

O deslocamento da agropecuária do Sudeste ao Cerrado não foi obra do acaso, não foi nada fácil e nem ocorreu por passe de mágica. Há muito se questionava como um país com as dimensões do Brasil não conseguia alimentar seu povo e era um comprador de alimentos.

Com o avanço da rainha, que neste xadrez foi a construção de Brasília, há 62 anos, o Presidente Kubitschek viu que não poderia contar com a capital no centro do país sem uma vida econômica, institucional e de serviços que atraíssem aventureiros, empreendedores, desempregados, boias-frias e migrantes de todo o Brasil, os candangos, para a nova capital, o novo Eldorado.

Todas as semanas se depara com notícia sobre o crescimento contínuo da produção de alimentos e matérias primas e o fortalecimento do país no cenário mundial da produção de alimentos.

 O Brasil não irá parar de crescer como produtor de alimentos

Apesar das preocupações e dúvidas não há nada que impeça o crescimento da agropecuária nacional nas próximas duas décadas. Ao se debruçar em um mapa sobre a atividade agropecuária se vê um grande vazio, o semiárido, quase como um todo à exceção das terras próximas à bacia do Rio São Francisco e Rio Parnaíba. Milhões de hectares, verdes durante o período de chuvas, tornam-se cinzentos e com uma produção irrisória durante os períodos secos, todos os anos. Mesmo nessa área o uso das águas superficiais ou profundas tem sido abaixo do que o que se pode esperar. O Semiárido não será o Cerrado e nem competirá com os produtos que caracterizar o Brasil Central, soja, milho, cana-de-açúcar, gado, mas deverá ser um celeiro para frutas, hortaliças, condimentos, mel e derivados, lácteos, além da riqueza que se armazena em sua biodiversidade.

O valor genético depositado nesta área de um milhão de quilômetros quadrados é imensurável e o mais importante entre todos os ativos. Que se discuta como, onde e em que condições esta política voltada à bioeconomia regional será delineada e posta em prática. Este patrimônio não se exaure de um dia para a noite, mas quanto mais rápido for a capacidade de intervenção, mais valiosos serão os dividendos.

Cabe um programa nacional para o Semiárido

Em que pese que a maioria dos programas presidenciais, senão todos, e dos governos estaduais sequer mencionaram o Semiárido como um problema a ser debruçado, o que se vê é uma região com uma dinâmica positiva à espera que se delineie e seja posto em operação um amplo programa de desenvolvimento do semiárido, aproveitando-se da malha fundiária definida, da infraestrutura hídrica e da democratização do ensino superior em todos os estados nordestinos.

Tal qual os governos posteriores ao Presidente Juscelino tentaram, uns mais outros menos, fazer é de se cobrar das instituições como a Presidência, a Câmara e o Senado uma iniciativa que mude a leitura e a ação para esta região que contempla um quinto dos municípios do Brasil e alberga uma população ao redor de 20 milhões de habitantes.

A primeira providência a ser tomada, mesmo em final de campanha eleitoral é no sentido de que os futuros governadores coloquem o semiárido com uma política estratégica em seus governos, trabalhando de forma conectada, seja através do Consórcio Nordeste ou tendo à frente um programa federal diretamente pela Presidência da República.

Em segundo lugar é importante que se estabeleça prioridades.  Apostando-se em quatro temas considerados como gargalos ao desenvolvimento regional: 1. Logística, 2. Recursos hídricos – abastecimento e uso produtivo da água, 3. Formação e valorização profissional e 4. Uso e disseminação por todo o território das novas tecnologias de informação.

O que há de se esperar para a próxima década

Em termos de logística para o estado de Pernambuco a duplicação da BR 232 é indiscutível. A modernização desse eixo modal, espinha dorsal do estado garantirá o fluxo mais rápido e mais barato de mercadorias bem como facilitará o deslocamento das pessoas, acelerando os negócios.

Ao se tratar de recursos hídricos aqui se chama a atenção para a conclusão das adutoras em construção fazendo com que todas as cidades do estado contem com água potável na torneira e que as águas pluviais com armazenamentos superficiais ou profundas sejam mais bem utilizadas na produção de alimentos e matérias primas dinamizando cadeias produtivas e arranjos produtivos locais dependentes de uma maior quantidade de água a exemplo da avicultura e da produção de frutas e hortaliças.

Um assunto comentado em crônicas anteriores diz respeito à disseminação do ensino médio e superior em todo o estado e a mais apurada qualificação dos jovens do interior de Pernambuco nas últimas duas décadas. O ensino médio não ficou para trás e não é à toa que jovens do Agreste e Sertão estão sendo bem-sucedidos em inúmeros concursos ou seleções em todo o país. Resta agora uma política consistente de aproveitamento dessa mão de obra especializada. Os efeitos da melhor qualificação se refletem diretamente no desempenho das empresas locais bem como na atração de investimentos. Uma das principais questões posta quando da prospecção é sobre o ativo cultural educacional que um município ou uma a região apresenta. Os empregos públicos serão limitados, resta incentivar o empreendedorismo e estimular a criação massiva de novas empresas sejam de produção ou serviços.

Quanto ao uso intensivo de tecnologias digitais em conexão com as áreas fins, tais como a agropecuária, agroindústria, bioeconomia, saúde, educação, cultura,  engenharias,  culinária, o comércio e o turismo, não há do que duvidar. Aproveitará melhor quem sair na frente e aproximar o semiárido dos centros consumidores e dinamizar a economia local.

É neste sentido que há de se cobrar compromissos com aqueles que serão eleitos ao executivo e ao legislativo visando uma leitura do estado com foco em suas regiões produtivas e um planejamento que tenha como norteador o apoio à base produtiva do interior do estado. O Semiárido apesar dos avanços alcançados nas últimas duas décadas ainda se encontra em busca de um momento que permita colocá-lo no local de destaque que merece. Nada de compensações ou piedade.

Geraldo Eugênio Professor Titular da UFRPE-UAST

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