José Magid Waquil*

José Magid WaquilNo Brasil, ano a ano, a utilização de sementes transgênicas aumenta sistematicamente. Nos últimos 5 anos, entre 2010 e 2014, a taxa de adoção de variedades geneticamente modificadas (GM) de soja foi de 75% para 93%. Para outras culturas, no mesmo período, o cenário é semelhante. Enquanto no milho, os índices foram de 55% para 82%, no algodão saíram de 26% para 65%. Em 2015, se as previsões se confirmarem, a prevalência dos OGM terá sido ainda maior nessas culturas. A adesão se deve aos benefícios advindos do uso da tecnologia, tais como maior eficiência, facilidade no manejo, menor tempo gasto nas operações, otimização do uso de defensivos químicos e redução das perdas.

Entretanto, a elevada adoção de sementes transgênicas resistentes a insetos (culturas Bt) exige um manejo específico. Apesar terem de essa tecnologia ter se mostrado uma aliada dos agricultores, sem táticas que visem retardar a evolução da resistência, sua eficácia pode ficar comprometida pela seleção de insetos resistentes ao Bt. A pressão de seleção exercida pela tecnologia em extensas áreas e por várias safras faz com que os indivíduos que são naturalmente resistentes e raros sobrevivam e se tornem maioria na população após algumas gerações, levando à perda de eficácia da tecnologia. Por essa razão, é fundamental o engajamento de produtores agrícolas de todo o país na correta utilização e manutenção da biotecnologia.

As Boas Práticas Agronômicas em Culturas Bt contemplam estratégias como dessecação antecipada, uso de semente certificada, tratamento de sementes, adoção de áreas de refúgio, controle de plantas daninhas e voluntárias e monitoramento de pragas. A dessecação evita que culturas antecessoras, assim como as plantas daninhas e voluntárias presentes no ambiente, hospedem pragas que atacam as culturas em fases iniciais de desenvolvimento. As sementes certificadas garantem a qualidade da variedade plantada e o tratamento das mesmas visa o controle de pragas subterrâneas em culturas de soja, milho e algodão. As áreas de refúgio têm a função de manter insetos suscetíveis à toxina Bt. Depois da lavoura já estabelecida, chega a hora de controlar plantas daninhas e monitorar a população de insetos para verificar a necessidade de aplicações complementares de inseticidas.

Dentre todas as práticas, o plantio de refúgio é a principal ferramenta para retardar a evolução de pragas resistentes ao Bt. A semeadura de um percentual da lavoura com variedades não Bt, de igual porte e ciclo da planta GM, é fundamental para produzir insetos suscetíveis à toxina inseticida para acasalar com os eventuais indivíduos resistentes e gerar uma prole também suscetível ao Bt. O percentual da área que deve ser usada como refúgio varia com o tipo de evento transgênico utilizado. Características como a cultura, o número de toxinas expressas e as recomendações das empresas desenvolvedoras são alguns dos fatores que influenciam a parcela da área que será plantada com essa finalidade. Ainda, segundo recomendações técnicas, no refúgio é permitida a utilização de outros métodos de controle, desde que não sejam utilizados inseticidas à base de Bt e que esse manejo permita a sobrevivência de um número significativo de insetos suscetíveis.

A adoção das sementes Bt no Brasil é reflexo da eficiência da tecnologia no controle de pragas e da confiança que o produtor depositou nessa inovação. A manutenção do desempenho esperado, entretanto, está invariavelmente vinculada ao emprego das Boas Práticas Agronômicas em Culturas Bt. Essa estratégia é essencial para que o produtor proteja não somente seu investimento, mas a produtividade de toda agricultura do País.

Artigo originalmente publicado na edição de fevereiro da revista AgroAnalysis

* Engenheiro agrônomo com mestrado em entomologia e Ph.D na área de resistência de plantas a insetos.

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