A soja é uma planta amplamente cultivada em todo o mundo e por mais que você não veja o grão desse vegetal no seu dia-a-dia, pode acreditar que de alguma forma ele está presente em sua alimentação.

Isso por que, mais de 90% dos grãos de soja são processados por diferentes indústrias que transformam esse grão em diferentes produtos e que são entregues a nós consumidores. A soja está muito presente na cozinha, não só como óleo, leite e proteína vegetal, mas também na carne animal, uma vez que é utilizada como ração para criação de gado, porco e aves.

Além disso, a soja também é utilizada na produção de biocombustíveis. O óleo vegetal desse grão pode ser processado e dar origem ao biodiesel, uma fonte de energia limpa e renovável que tem sido cada vez mais utilizada como matriz energética de automóveis pesados como caminhões, caminhonetes, ônibus entre outros.

A Origem da soja como alimento

A soja, de nome científico Glycine max L., faz parte de uma família de plantas bastante conhecida, as leguminosas que incluem o feijão, a ervilha, o amendoim e muitas outras. A incorporação do grão de soja, como principal fonte de proteína vegetal foi de grande importância para o desenvolvimento da sociedade.

A domesticação da soja teve início a cerca de 5 mil anos a.C. no Oriente Asiático. Antigos registros chineses, de onde ela provavelmente tenha sido originada, mostram que a soja já apresentava importância socioeconômica entre 2000 a 5000 anos a.C.

Os chineses e outros povos desenvolveram dois métodos para consumir a soja: extraindo a proteína e óleos na forma de “leite” e coagulando este até transformá-lo em “queijo”, o tofu.

Eles também estimularam o crescimento de microrganismos que consomem substâncias indesejáveis por meio da fermentação. O resultado foi o molho de soja e o missô, usados como base da culinária oriental, em particular – a japonesa.

origem das plantas

O crescimento do cultivo da soja

Assim como todas as plantas cultivadas nos dias de hoje, a aparência da soja de milhares de anos atrás é bastante diferente da encontrada nos campos atuais. Inicialmente, as plantas de soja apresentavam características de plantas rasteiras. O que vemos hoje é resultado de um processo que ocorreu através de cruzamentos naturais entre espécies selvagens, seguida da sua domesticação e técnicas de melhoramento genético.

vagem da soja

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Embora a soja tenha um histórico de milhares de anos de cultivo no continente asiático, foi apenas no século XIX que países ocidentais começaram a produzir essa leguminosa. A cultura de soja nos Estados Unidos, primeiro país oriental a produzir a leguminosa, foi incialmente para utilizá-la como planta forrageira ou adubo verde.

A partir do ano de 1940 deu-se início a uma maior expansão do cultivo de soja no cenário mundial. No entanto, uma expansão mais acelerada dessa cultura, se deu 50 anos mais tarde, principalmente devido ao crescimento populacional e desenvolvimento da China.

Hoje, a produção de soja mundial é dominada por cinco países que juntos produzem cerca de 88% de todo o grão comercializado no mundo. O Brasil é o maior produtor, seguido por Estados Unidos, Argentina, China e Paraguai.

A soja no dia-a-dia

A soja é muito conhecida por ser utilizada na produção de óleo vegetal mas, existem diversos outros produtos derivados dessa cultura. Entre os principais estão:

  • Grãos: O grão de soja não possui amido e apresenta um alto valor nutricional quando comparado com outros grãos. A proteína por exemplo, representa 35 a 38% do grão. Assim com outros grãos como o feijão, a soja não deve ser consumida crua pois, apresenta compostos anti-nutricionais que são inativados com o calor.
  • Óleo de soja: Obtido através da extração industrial do óleo presente nos grãos e passado por diversas etapas para a obtenção de um óleo refinado. Utilizado no preparado de alimentos, produção de margarinas, maioneses, biodiesel, entre outros.
  • Leite de soja: Extrato proteico extraído dos grãos através de diferentes processos. Apresenta apenas 2% de gorduras e sua composição é basicamente água. É utilizado para a fabricação de bebidas.
  • Farinha de soja: Farinha obtida através da moagem de grãos de soja após serem submetidos a tratamento térmico. Apresenta alto teor de proteína que pode variar entre 35 e 40%.
  • Proteína de soja: Ou carne de soja, é produzida a partir da farinha de soja após a retirada de gorduras através do processo conhecido como extrusão termoplástica. Apresenta alto teor de proteína, que representa mais de 50% do seu total.
  • Tofu: Ou queijo de soja é um queijo da culinária oriental produzido a partir do leite de soja.

A soja no Brasil

No Brasil, o cultivo de soja teve início no final do século XIX em pequenas propriedades com o objetivo de produzir feno para alimentar bovinos. No entanto, o primeiro registro de produção com finalidade econômica ocorreu no ano de 1941 no Município de Santa Rosa no Rio Grande do Sul.

O início do crescimento da lavoura de soja no Brasil se deu na região sul, principalmente devido às condições climáticas, solo e relevo semelhantes ao do sul dos Estados Unidos, de onde vieram as primeiras variedades dessa planta.

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A partir do ano de 1970 a cultura da soja cresceu significantemente no país, finalizando a década com uma produção de 10,2 milhões de toneladas e tornando-se a principal lavoura brasileira. Nesse período, deu-se início ao ciclo da soja do agronegócio brasileiro. O Brasil então, ultrapassou a produção da China e se consolidou como segundo maior produtor de soja do mundo.

Segundo o IBGE o país deverá colher, no ano de 2020, um total de 123,3 milhões de toneladas de soja, representando um aumento de 8,7% em relação ao ano anterior. Os maiores responsáveis por essa produção são os estados do Mato Grosso, Rio Grande do Sul e Paraná que juntos, produzem mais da metade de toda a soja brasileira.

Além disso, a consolidação da expansão da cultura nas regiões Norte e Nordeste, com destaque para região do Matopiba (Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia), deverá levar o Brasil à liderança mundial na produção de soja nos próximos anos.

Lavouras do Brasil soja

Soja, uma planta de muitos desafios

Embora as condições de clima, solo e relevo no Brasil sejam excelentes para o cultivo da soja, algumas limitações podem afetar o seu desenvolvimento. Dentre as mais importantes está a distribuição irregular de chuvas, temperatura e o aparecimento de pragas e doenças.

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A soja é uma planta bastante exigente e para que ocorra um bom desenvolvimento, é preciso superar alguns desafios, como:

1. O rendimento da cultura é fortemente afetado pela disponibilidade hídrica, principalmente nos primeiros estágios de vida da planta. No entanto, o excesso de água também pode afetar o desenvolvimento da planta. Portanto, a necessidade hídrica durando o ciclo da soja é de 450 mm a 800 mm bem distribuídos. Mas, essa quantidade de água pode variar de acordo com o solo, a fase de desenvolvimento da planta, condições climáticas e incidência de raios solares.

Encharcamento do solo

2. A soja é uma planta típica de primavera-verão, no entanto temperaturas muito elevadas podem ser prejudiciais à planta afetando o seu crescimento, podendo provocar aceleração nos ciclos da planta, rápida maturação e abortamento de flores e vagens.

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3. Temperaturas muito baixas podem reduzir a velocidade de desenvolvimento da planta, atrasando seu florescimento e consequentemente a colheita. Outro fator climático que atrapalha o desenvolvimento da soja é a ocorrência de temperaturas amenas durante a noite. Temperaturas que variam entre 15 e 22 °C durante a noite influenciam nas taxas de respiração da planta, consequentemente interrompendo a degradação de fotossintetizantes produzidos durante o período de sol.

4. A cultura da soja é intensamente atacada por pragas e doenças que podem diminuir a produtividade, causar danos aos grãos e até mesmo matar as plantas. Prejuízos esses causados por diferentes insetos como lagartas e percevejos, assim como microrganismos que atacam raiz, caule, folhas e vagens da soja.

Para superar os desafios, muita ciência

A adaptação da soja a diferentes regiões do Brasil é resultado de muito investimento em pesquisa e desenvolvimento de novas estratégias, ferramentas, técnicas e sementes melhoradas geneticamente. Fazem parte dessa inovação:

  • Adoção do sistema de plantio direto;
  • Modernização das máquinas e dos implementos agrícolas;
  • Desenvolvimento de insumos biológicos e químicos para proteção de plantas e também para melhorar fertilidade do solo;
  • Desenvolvimento de variedades adaptadas às regiões tropicais, de baixas latitudes;
  • Desenvolvimento de cultivares de soja transgênica;
  • Integração da lavoura com a pecuária;
  • Adoção do Manejo Integrado de Pragas.

Uma das grandes sacadas dos cientistas para expansão da soja no Brasil foi a identificação de uma característica genética (genes) no banco de germoplasma dessa planta, capaz de prolongar a sua fase jovem. Com isso, foi possível desenvolver cultivares que se cresciam de forma mais lenta mas, que apresentavam maior rendimento de grãos em diferentes condições ambientais.

Atualmente existem diversas variedades de soja, que foram desenvolvidas tanto por melhoramento convencional, como por meio de técnicas de biotecnologia moderna e apresentam diferentes características. Cabendo citar: cores, tamanhos e formatos das vagens e flores; tipo de crescimento; formato da planta; diferentes concentrações de óleo e proteína, assim como diferentes tipos de resistência a pragas e doenças e tolerância a herbicidas.

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Com toda essa oferta de opções, a escolha da variedade é uma etapa de grande importância para iniciar uma lavoura de soja. Afinal, a diversidade de regiões brasileiras exige variedades específicas. Por isso, é importante que o agricultor se mantenha atualizado sobre as variedades que serão disponibilizadas a cada ano.

Além da escolha da semente, o preparo do solo é de extrema importância. Para essa prática a ciência conseguiu desenvolver um sistema de semeadura eficiente, o plantio direto. Um sistema que promove a rotação de culturas, cobertura permanente do solo e baixa mobilização da terra, entregando benefícios como:

  • Controle da erosão do solo;
  • Economia e melhor utilização da água;
  • Controle de temperatura para germinação das sementes;
  • Maior crescimento radicular;
  • Maior disponibilidade de nutrientes;
  • Economia nos custos de produção.

Outra estratégia muito bem desenvolvida pelos pesquisadores e adotada pelos produtores é o Manejo Integrado de Pragas (MIP). O objetivo é interferir na lavoura apenas quando necessário, ou seja, quando a intensidade das pragas e doenças atingem um nível que possa causar risco de perdas representativas.

O MIP na soja, proporciona vantagens como:

  • Redução dos custos de produção;
  • Aumento de diversidade biológica na lavoura;
  • Menor risco de ressurgência de pragas;
  • Menor uso de defensivos químicos;
  • Preservação de tecnologias.

No entanto, para que o MIP possa ser realizando é necessário investir em produtos de alta tecnologia, como defensivos químicos e biológicos de alta eficiência e registrados pelo  Ministério da Agricultura Pecuária e Abastecimento (MAPA); cultivares melhoradas geneticamente, devidamente registradas e adequadas para cada ambiente; maquinários modernos e sustentáveis; equipamentos para o monitoramento da lavoura, entre muitos outros que estão disponíveis para agricultura tropical.

Origem e adoção da soja transgênica no Brasil

A primeira soja transgênica foi desenvolvida para apresentar tolerância ao herbicida glifosato, tendo seu plantio iniciado nos Estados Unidos, em 1996.

Em 1997, ela foi autorizada na Argentina e em 1998 foi aprovada para cultivo no Brasil e tornou-se a primeira planta transgênico adotada no País. Atualmente, o Brasil bateu recorde de área cultivada com soja transgênica, chegando a 34,86 milhões de hectares (ha), o que representa 96% de toda a área cultivada.

O sucesso da adoção dessa tecnologia, pelos produtores brasileiros, é resultado de sua eficiência principalmente devido a uma maior produção e, portanto, resulta em maiores rendimentos e reduções nos custos operacionais.

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Nos últimos anos, a produção da soja transgênica no Brasil revolucionou a agricultura brasileira não só no campo, mas também na economia. Todos os anos ela contribui para geração de riqueza, emprego e competitividade para o País. Ainda, supre o mercado interno e externo desses grãos.

De acordo com o Ministério da Indústria, Comércio Exterior e Serviços, em 1998 as exportações do complexo soja somavam 21 milhões de toneladas. Em 2017, esse valor já era de 83 milhões de toneladas, um aumento de quase 300%.

Atualmente, existem dezenove eventos de sojas transgênicas aprovadas para comercialização no país. Esses produtos apresentam características como:

  • Melhora da qualidade do óleo vegetal;
  • Tolerância a seca;
  • Resistência a insetos da ordem Lepidóptera;
  • Resistencia ao herbicida glifosato;
  • Resistência a herbicidas do grupo das imidazolinonas;
  • Resistência ao herbicida isoxaflutole;
  • Resistência ao herbicida dicamba;
  • Resistência ao herbicida 2,4-D;
  • Resistência ao herbicida glufosato.

Por fim, a cultura da soja tem tudo para prosseguir crescendo dentro da agricultura tropical brasileira. Para isso, é necessário que os produtores continuem adotando as novas tecnologias derivadas da ciência e seguindo as orientações técnicas dirigidas à produção sustentável. A inovação em tecnologia de sementes e formulações aprimoradas de defensivos químicos e biológicos é constante e podem oferecer diferentes estratégias de manejo. Manter essa qualidade de produção é essencial para que o Brasil continue superando as safras anteriores em porcentagens cada vez maiores.

Fonte: https://croplifebrasil.org/

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