Adilson Aguiar é graduado em Zootecnia pela Faculdade de Agronomia e Zootecnia de Uberaba (1991). Possui especialização em Metodologia do Ensino Superior pela Associação Brasileira de Ensino Agrícola Superior – ABEAS (1992). Especialista em Solos e Meio Ambiente pela Escola Superior de Agricultura de Lavras – ESAL (1996). Atualmente é professor titular da FAZU – Faculdades Associadas de Uberaba. Tem experiência na área de Zootecnia, com ênfase em Manejo e Conservação de Pastagens.

Do total de fertilizantes comercializados no Brasil, algo próximo a 29,5 milhões de toneladas em 2012, apenas 418 mil toneladas ou 1,42%, foram comercializadas para a aplicação em pastagens, quantidade que foi suficiente para aplicar em apenas 1,22% da área total de pastagens (CUNHA; RIBEIRO, 2013). Daquele total, 80% foram comercializados para somente cinco culturas: em ordem decrescente: soja, milho, cana, café e algodão. Esse maior uso de fertilizantes nestas culturas (exploração intensiva do solo) explica em parte porque a pecuária tem cedido áreas de pastagens degradadas para a agricultura.

No último Censo Agropecuário (IBGE, 2006) em apenas 1,6% dos estabelecimentos pecuários se aplicava algum tipo de adubação em pastagens.

Apesar dos ganhos alcançados com a correção e adubação de solos de pastagens serem de conhecimento da comunidade cientifica e por parte de consultores, e de serem, frequentemente divulgada por pesquisadores e técnicos, a adoção de programas de correção e adubação de solos de pastagens ainda é inexpressivo.

Na tabela 1 encontra-se uma comparação pratica das respostas ou ganhos alcançados em pastagens cujos solos são corrigidos e adubados em comparação a uma pastagem explorada de forma extrativista.

Entretanto, o crescimento no consumo de fertilizantes em sistemas de pastagens tem aumentado a taxas muito acima das outras culturas, apesar deste crescimento significativo partir de uma base de consumo inexpressiva.

As razões da baixa adoção de fertilizantes em pastagens são muitas e a avaliação das causas é complexa, pois envolve desde questões culturais (cultura extrativista), falta de conhecimento das respostas potenciais da pastagem e dos animais à correção e adubação do solo da pastagem e suas relações de beneficio:custo; baixa adoção de assessoria técnica por parte dos produtores; dificuldades em manejar pastagens com elevado nível de fertilidade do solo, representados pelo manejo do pastejo (frequência, intensidade, duração do pastejo etc), pela programação das adubações no tempo e horas adequadas para a melhor resposta desse insumo e, principalmente, pela falta do planejamento para equilibrar a produção de forragem com a demanda do rebanho; falta de projeto com visão estratégica (de longo prazo), burocracia para contratação de financiamento por causa do excesso de exigências, falta de garantias para contrair financiamentos; termos de trocas desfavoráveis entre os valores dos fertilizantes e do produto animal (arroba, leite); impossibilidade de o produtor utilizar capital próprio para investir no segmento produtivo, em virtude de a atividade pecuária operar com margens estreitas ou até mesmo negativas porque o nível de exploração é do tipo extensivo, na maioria das propriedades.

Deve-se considerar também que o aumento na taxa de lotação resultante do uso de fertilizantes implica em custos adicionais com compra de mais animais, suplementos, vacinas, etc. Em determinadas situações são necessários investimentos em infraestrutura para permitir o manejo eficiente da pastagem.

Devido ao maior tempo de retorno do capital investido, é comum observar fluxos de caixa pouco positivos ou até mesmo negativos nos primeiros anos depois da implantação do projeto.

É preciso também levar em consideração que a idade média dos pecuaristas brasileiros está avançada e eles não têm, na maioria, sucessores interessados em continuar a atividade, o que limita a adoção de sistemas mais intensivos, e, portanto, mais complexos.

Quando as causas citadas acima não estão presentes, ainda assim fica o questionamento: é mesmo viável corrigir e adubar solos de pastagens?

Numa análise da viabilidade econômica da correção e adubação de solo da pastagem é importante ter uma visão estratégica, ou seja, de longo prazo, pois o efeito residual dos corretivos e adubos precisa ser contemplado na análise. Veja um estudo de caso.

Esta propriedade está localizada na Latitude 14°30’ Sul, a 750 m de altitude, sob um regime de clima Tropical de Savana (clima típico da região do bioma dos Cerrados) com precipitação média de 1.473 mm, e uma temperatura média de 23,3°C. Os solos estão classificados nas classes de solos dos tipos Neossolo Quartzarênico e Latossolo Vermelho Amarelo Distrófico arenoso.

A propriedade em questão vem intensificando a produção de leite bovino através da adoção de tecnologias de processos e de insumos, tais como a irrigação da pastagem e a correção e adubação intensiva do solo desde 2004.

Na tabela 2 encontram-se as quantidades de corretivos e adubos recomendadas no primeiro ano de intensificação, em 2004, e para o ano 2011 para uma produção de forragem suficiente para suportar 8,00 UA/ha na média do ano, em 2004, e 10,4 UA/ha média ano, em 2011.

TABELA 2 – Doses de corretivos e adubos para a produção de forragem para alcançar a meta de alimentar 8,0 UA/ha, em 2004, e 10,5 UA/ha, em 2011.

Fonte: AGUIAR; CASETA, 2012.

Observa-se nos valores entre parêntesis uma redução significativa, para todos os nutrientes tanto em termos absolutos (kg/ha), quanto relativos (kg/UA). Era de se esperar algum questionamento quanto à fertilidade do solo desta área, ou seja, se não houve redução da mesma devido à redução dos níveis de correção e adubação. Entretanto, os resultados das análises feitas em 2004 e 2011, revelam aumento significativo em todas as determinações (TAB. 3).

TABELA 3 – Resultados de análises de solos de pastagem irrigada nos anos 2004 e 2011.

Fonte: AGUIAR; CASETA, 2012.

Por outro lado, se a fertilidade do solo não foi reduzida com a diminuição nos níveis de adubação era então prudente o questionamento se a produtividade não fora reduzida. Entretanto, os dados coletados na propriedade revelam que nos últimos quatro anos aquela pastagem produziu 130.000 litros de leite/ha ou uma média de 32.500 litros/ha/ano, com redução significativa na relação dose de corretivos e adubos por litro de leite produzido.

Na tabela 4 alguns indicadores técnicos e econômicos das 500 propriedades leiteiras que participaram do diagnóstico da cadeia do leite do Estado de Goiás (GOMES, 2009), que exploram, em sua maioria, sistemas extensivos de produção, com propriedades que exploram o solo e outros fatores de produção de forma intensiva. Para se ter uma ideia de como os produtores exploram os solos do Estado de Goiás, no último Censo Agropecuário publicado em 2006, apenas 5,54% das propriedades de pecuária, incluindo aqui as de bovinos de corte, usavam fertilizantes, enquanto o uso de calcário era adotado por apenas 11% das propriedades, incluídas aqui também as de agricultura (IBGE, 2006).

TABELA 4 – Indicadores médios de fazendas leiteiras comerciais e da pesquisa.

1 DIAGNÓSTICO GETEC/FAEG, GOMES, 2009.

2 Considerando a área média útil de 50,35 ha DIAGNÓSTICO GETEC/FAEG, GOMES, 2009.

3 Preço médio do litro de leite em Goiás, 2011 = R$ 0,84/l.

4 MB = margem bruta = R – CV + DA – Proporção da receita do leite. DIAGNÓSTICO GETEC/FAEG, GOMES, 2009.

5 RB = renda bruta mensal

Observa-se que os indicadores técnicos médios (produção por fazenda por dia e por hectare ano) das 500 propriedades leiteiras que participaram do diagnóstico da cadeia do leite em Goiás são significativamente mais baixos que os das fazendas comerciais e de pesquisa que exploram a terra num modelo intensivo, o que leva a resultados econômicos pouco atrativos, mesmo com margens brutas por litro mais altas que as alcançadas nos sistemas intensivos, que são mais competitivos porque alcançam escalas de produção bem mais altas.

As margens alcançadas por hectare nas fazendas intensivas torna a atividade leiteira mais competitiva que as alternativas de uso da terra que tem competido por este recurso com as atividades pecuárias, tais como grãos, cana, reflorestamento, seringueira etc. chama-se a atenção que aquelas margens são provenientes apenas da venda do leite, não estando ai a receita alcançada com animais de descarte e para reprodução.

Naquelas propriedades que exploram sistemas intensivos os custos com correção e adubação dos solos representam menos de 20% da receita do leite. No início do programa de correção e adubação nos solos típicos do Brasil, que são classificados como de fertilidade natural muito baixa, o custo com correção e adubação representa em torno de 2 litros de leite/vaca/dia, mas com o passar dos anos, devido aos efeitos residuais dos corretivos e adubos aplicados em anos anteriores, aquele custo passa a representar menos de 1 litro de leite/vaca/dia, em sistemas com vacas produzindo entre 10 e 15 litros de leite/dia.

BIBLIOGRAFIA

AGUIAR, A. P. A.; CASETA, M. C. Manual de interpretação de resultados de análises de solo e de planta forrageira para recomendações de correção e adubação de pastagens com base no modelo de balanço de massa. Uberaba: AGUIAR, A. P. A. 2012. 126 p.

CUNHA, J. F. da; RIBEIRO, R. Mercado de fertilizantes e suas implicações econômicas em reforma de pastagens. In: ENCONTRO DE ADUBAÇÃO DE PASTAGENS DA SCOT CONSULTORIA – TEC-FÉRTIL. Ribeirão Preto, 2013. Anais … São Carlos: SUPREMA GRÁFICA E EDITORA, 2013. 272 p. p. 127-142.

GOMES, S. T. Diagnóstico da Cadeia Produtiva do Leite de Goiás: relatório de pesquisa. Goiânia: FAEG, 2009. 64 p.

IBGE – CENSO AGROPECUÁRIO 2006. Rio de Janeiro: IBGE, 2009. 777 p.

Fonte: https://www.cursosbaldecheioluz.com.br/

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