*José Américo Pierre Rodrigues

José AméricoAo longo das últimas décadas, o Brasil realizou uma verdadeira revolução no campo e transformou sua agricultura em um dos setores mais dinâmicos e competitivos da economia do País. A modernização dos sistemas de produção, por meio da mecanização e da utilização de tecnologia de ponta, agregou valor, segurança e qualidade aos produtos da atividade agrícola. Assim, o Brasil se tornou capaz de abastecer o mercado interno e gerar excedentes para exportação. Diversos fatores contribuíram para que o setor primário tivesse esse desempenho notável. Entretanto, cabe ressaltar o papel-chave que o agricultor brasileiro tem nessa conjuntura.

Pequenos e grandes produtores abraçaram as tecnologias e revelaram grande capacidade de absorver conhecimento, aplicar técnicas e buscar inovações. Graças ao dinamismo e ao pensamento orientado às boas práticas agronômicas no campo, os agricultores são, e continuarão a ser, a principal força desse processo. É importante reconhecer esse mérito porque o cenário no Brasil, ao contrário do que é difundido desde os tempos de Pero Vaz Caminha, não é dos mais favoráveis à agricultura. Em nosso clima tropical há condições propícias ao desenvolvimento e adaptação de plantas daninhas. Além disso, os plantios sucessivos fornecem alimento abundante aos insetos e não temos um inverno rigoroso que ajude a quebrar o ciclo biológico de espécies indesejadas.

Uma das estratégias mais efetivas de controle de insetos pragas no campo se dá por meio da adoção de plantas que expressam proteínas inseticidas, conhecidas como plantas Bt. No entanto, a evolução da resistência de pragas é o maior desafio para o uso desta tecnologia. Diante deste fato, o uso sustentável desta prática é dependente da implementação de um programa efetivo de Manejo da Resistência de Insetos (MRI). O plantio de refúgio (cultivo de uma parcela da área com plantas não-Bt para a manutenção da população de insetos suscetíveis) é a principal ferramenta dos programas de MRI e tem sido efetivo em retardar a resistência de pragas em países com maior histórico de uso destas tecnologias. Nessas condições, a parceria entre o agricultor e a tecnologia é a única alternativa para que a atividade agrícola seja economicamente viável.

Exemplos dessa relação bem-sucedida não faltam. Nos Estados Unidos, primeiro país a lançar mão da tecnologia Bt em 1996, agricultores continuam a observar alta eficácia contra as principais pragas, como a broca européia no caso do milho e a lagarta da maçã no caso do algodão. Outro país com grande sucesso na adoção da biotecnologia para o controle de insetos é a Austrália, onde o algodão com tecnologia Bt vem assegurando altas produtividades com sustentabilidade ao longo dos últimos 15 anos, devido sua proteção contra a devastadora Helicoverpa armigera.

No Brasil, a Associação Brasileira de Sementes e Mudas (ABRASEM) é uma das entidades que promove a adoção do refúgio em áreas de culturas Bt. Por meio de programas de educação e divulgação, incentiva o agricultor a implementar a prática, fundamental para a manutenção da eficácia dessas tecnologias. Segundo dados da Associação Paulista dos Produtores de Sementes e Mudas (APPS), na safra de 2014/15, quase 20% das sementes de milho vendidas foram convencionais. Essa taxa reverte uma tendência de queda, no levantamento anterior estava em 16%, e pode ser considerada uma reação ao estímulo do plantio de refúgio. Dito de outra maneira, produtores brasileiros vêm investindo na inovação das sementes geneticamente modificadas (GM) e seguindo as recomendações técnicas, plantando também variedades convencionais. Assim como em outros países, também no Brasil o casamento entre empreendedorismo, boas práticas agronômicas em biotecnologia e políticas adequadas garante a produtividade da agricultura e a longevidade das tecnologias.

Se hoje a agricultora brasileira é competitiva, reconhecida internacionalmente como uma provedora de alimentos para o mundo todo e uma atividade praticada, cada vez mais, de maneira sustentável, o produtor brasileiro é um dos principais responsáveis.

*José Américo Pierre Rodrigues é economista e presidente executivo da Associação Brasileira de Sementes e Mudas (ABRASEM), com experiência de mais de 20 anos no setor.

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