Por João Amaral *

Era o mês de setembro de 1991, quando recebi um presente dos céus: fazer um curso de especialização em Israel.

Exatamente há um quarto de século, apenas seis meses após o final da guerra do Golfo, sob os tacões de Saddam Hussein, que uma experiência mudou a minha vida na forma de pensar agricultura no semiárido, ao ver a realidade daquele país na aridez das terras onde nasceu o menino Jesus.

O então senhor Secretário de Estado da Agricultura Edimilson Machado de Almeida me chamara ao seu gabinete para me comunicar que, na condição de técnico da área de planejamento da SAGRI, havia inscrito o meu nome para participar de um curso de especialização de alto nível em Israel, mas que eu deveria ter o propósito de trazer experiências aplicáveis à nossa realidade.

Dizem que uma viagem vale mais que mil palavras, e é verdade. Durante os dois meses que lá passei, pude conviver com pessoas incríveis do mundo todo, que para lá acorriam na busca de absorver maiores conhecimentos tecnológicos avançados naquela terra tórrida.

O Estado de Israel, um pequeno país do tamanho do estado de Sergipe, estava vivendo um momento de grandes tensões motivadas pelas dezenas de bombas Scuds dos iraquianos, jogadas, meses antes, em solo israelense. Mas isso não tirava o foco do espírito empreendedor daquele povo tão acostumado a conflitos com os seus vizinhos.

O que mais me impressionava é como eles desenvolveram tecnologias para tornar a sua agricultura ainda mais competitiva em um clima tão hostil.

Ficava intrigado quando me diziam que eles produzem no deserto, contando apenas com um manancial que é o rio Jordão, um filete d’água menor que o nosso rio Vaza Barris, e obtêm generosas safras de tomate, chegando a cinquenta toneladas por hectare, ou até sessenta e cinco toneladas de cítricos, lançando mão de tecnologias de irrigação de alta precisão.

Se lá eles têm um pequeno rio que abastece todo o país, através de um aqueduto de quatrocentos quilômetros de comprimento, aqui nós temos o rio São Francisco com o seu ainda grande caudal, como um desafio à inteligência dos sergipanos, que amargam severas secas todos os anos, sem que uma verdadeira ação concreta seja desencadeada.

O intrigante é que a natureza colocou o são Francisco em solo sergipano, fazendo correr as suas doces águas justamente cortando a porção mais seca do estado, como a querer dizer: vou observar o que eles irão fazer com tanta água, já que água é sinônimo de vida e sem ela ninguém sobrevive.

Para espanto dos mais afeiçoados ao acompanhamento dos escores de desenvolvimento, muito pouco se avançou desde a criação da portentosa SUDENE, da CODEVASF, do DNOCS, da COHIDRO.

O Semiárido continua sofrendo, anualmente, a sua já esperada situação de emergência. O capim secando, o gado morrendo, o povo empobrecendo. E nada se faz de concreto, afora o emergencial. A pobreza e a fome persistem a quinhentos metros da calha do rio, com seus mais de oitocentos metros cúbicos d’água por segundo.

Com tamanha grandeza, poderíamos ser um celeiro fecundo, permanente, se as atenções dos poderes públicos se voltassem com mais energia para resolver um quesito que tem solução, que é a falta d’água.

Por tudo isso, no cenário do Nordeste o estado de Sergipe é um dos poucos que se pode dar ao luxo de dizer que existe solução para este recalcitrante problema.

Se não se sabe por onde começar, é hora de se fazer pactos, parcerias com outras comunidades científicas em redor do mundo, que podem disponibilizar conhecimentos.

Vale o adágio: “junta-te aos bons que serás bom também. Junta-te aos maus que serás pior do que eles”.  E nós, os sergipanos, queremos ser os melhores.

(*) – João Amaral é engenheiro agrônomo, atualmente Diretor de Divulgação e Imprensa da AEASE.

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